terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Umberto D

Desde os 14 anos de idade, quando comecei a sair sozinha, lembro de ir ao cine Belas Artes.
Dentre os muitos filmes que assisti e assisto até hoje no Belas Artes tem alguns que contribuíram para descobrir qual seria a minha profissão .
Quero prestar uma homenagem ao Belas Artes colocando a cena final de um desses filmes, talvez o mais impactante. Esse filme foi realizado no início dos anos 1950, no pós-guerra. Nessa época, a europa estava em frangalhos, com muito desemprego e pessoas em situação de miséria. O diretor Vitório de Sica filmou essa história, não com atores profissionais, mas com pessoas comuns que estavam realmente passando por aquela situação.
Umberto é um homem já velho que perde seu emprego e não consegue mais se sustentar. Ele mora com seu cachorro numa pensão e para ele a saída é o suicídio. Mas antes de se suicidar, ele quer arranjar um bom lugar para seu cão. Bem, se formos comparar os filmes atuais com os italianos daquela época, pode parecer uma história piegas e excessivamente dramática, mas o seu realismo, principalmente na última cena, foi para mim uma das cenas mais marcantes da minha vida.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Como fazer para que seu cão brinque com outros cães e ao mesmo tempo o obedeça:

No início dos passeios, quando o filhote, começar andar na rua, leve-o a um parque que tenha um espaço para cães (Ibirapuera, Villa-Lobos, e outros).


Chegando lá, coloque uma guia longa de 5 metros ou mais. Pode ser a retrátil, mas o ideal são as guias de adestramento. Deixe que ele se distancie um pouco e o chame com o comando que desejar (por exemplo: "Tó". Quando ele chegar perto de você, recompense-o com um afago e também com um petisco bem gostoso. Caso ele não volte, dê pequenos trancos na guia, puxando-o e encurtando-a até que ele se aproxime. Aí recompense-o.
Esse exercício de chamá-lo e recompensá-lo quando ele vem até você deve ser feito não só no parque mas também em casa, como parte de um treinamento diário. 
Se seu cão começar a querer fugir de você, principalmente na hora de ir embora, mantenha a calma. Nesse momento você deve se tornar um monge budista, pois ele irá te irritar muito. Fique calmo, vire as costa para seu cão e finja que está indo embora. Procure não olhar para ele
Por fim, quando seu cão já estiver adulto e acostumado a freqüentar o parque e a voltar sempre que você o chama, é hora de soltá-lo da guia, sem nunca, porém, perdê-lo de vista.
Dicas importantes:
 Jamais dê bronca em seu cão porque ele demorou a voltar para você. Sempre que ele voltar, mesmo que isso leve algum tempo, faça carinho nele. Se você o repreender, ele vai ficar com medo de chegar perto de você. Pode até ser que volte, atemorizado por seus gritos, mas então, em vez de começarem a estabelecer uma relação de confiança, vocês estão se relacionando através do medo, o que é péssimo.
 É comum, nos parques, geralmente se encontrarem sempre os mesmos donos de cães, que, por causa dessa proximidade e do assunto cães em comum, acabam se tornando colegas e até mesmo amigos. Cuidado, então, para não ficar só batendo papo e esquecer do seu cão. A prioridade no passeio é ele e, por mais que ele seja adestrado, ainda assim é um animal, e está sob sua responsabilidade. Não desgrude os olhos dele.
 Sempre tenha um petisco no bolso, mesmo que ele já não precise desse reforço para voltar. Pode ser útil para atraí-lo, numa emergência.
 Não deixe seu cão montar em nenhum cão. Mesmo que o dono do outro diga que não se importa, esse é um comportamento que não deve ser tolerado, pois instiga a dominância, e ela é o primeiro passo para brigas entre cães.
 Também não permita que montem no seu cão. Se acontecer, peça que o dono tire o cão dele de cima do seu. Se você permitir, o seu cão pode de repente acabar atacando o outro cão.
 Evite brigas. Caso seu cão comece a rosnar para outro, e principalmente os dois fiquem se encarando com os olhos fixos, tire-o rapidamente do local, pois essa reação é sinal de encrenca à vista.
 Jogue bastante bolinha para seu cão ir pegar, assim o foco de atenção dele recai na bolinha e ele acabará mal se importando com cães briguentos que possa haver por perto.
Bem, seguindo essas dicas você pode se sentir razoavelmente seguro. Não esqueça, porém, que o mais importante é educar seu cão para que, em qualquer situação, ele sinta que ao lado dele está um líder que ele respeita, ama e obedece. E lembre-se: ao castrar seu cão macho, além de fazer um bem para a saúde do seu companheiro, você terá um cão menos ansioso, mais obediente e brincalhão.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Preparando seu cão para ser dessensibilizado


Como disse no tópico “Quando o cão está pronto para iniciar o trabalho de TAA”, é essencial que o cão fique tranqüilo ao ser manuseado por pessoas diversas. Ampliar os recursos do cão possibilita abrir possibilidades de trabalho dentro da TAA. Veja alguns exemplos:
Idosos: o cão recebe  afagos pelo corpo todo e fica no colo do assistido boa parte da sessão, por isso ele deve ser trabalhado para esse tipo de situação;
Crianças:  algumas crianças agem de forma abrupta, querem andar de “cavalinho” em cima dos cães e tentam agarrá-los. Nesses casos, o cão não pode nem virar a boca na direção da mão da criança, quem deve reprimir qualquer comportamento inadequado é o profissional que está trabalhando na terapia;  
Pacientes hospitalizados: muitas vezes estão com sonda, soro ou aparelho respiratório. Esses cães recebem afagos com os pés, com as mãos e fica muito tempo deitados na mesma posição.
Como dessensibilizá-lo?
Procure estabelecer metas. Pense primeiro, qual o tipo de população que seu cão iniciará o trabalho(criança, adulto, idoso) Depois descreva como são esses assistidos (tímidos, quietos, bagunceiros, como se locomovem, etc.) E por fim, durante todo o período de dessensibilização, dê mais ênfase no comportamento que o cão deverá ter com o assistido que irá trabalhar.
Feito isso, comece sempre recompensando seu cão com algo que ele gosta muito (comida, bolinha, afagos). Todas as vezes que seu cão for com a boca para morder ou reclamar, você deverá dar a recompensa, isto é, quando ele se direcionar para a “coisa” desagradável que o incomoda, ele encontrará uma “coisa” agradável que se sobrepõe.
Também, não se esqueça de brincar com ele de formas diferentes, apalpando seu corpo de vários jeitos (forte, fraco, desajeitada, calma, com os pés, etc.).
Não ultrapasse o tempo. De 10 a 15 minutos está ótimo.
Segue abaixo uma aula de dessensibilização feita com Zequinha.
*Para ele, costumo revezar o reforço entre petisco, brinquedo e afagos.  
Também gosto de ensinar o cão a beijar. Embora, a maioria dos assistidos não possa receber lambidas, existe tratamento que o ato de beijar faz parte do contexto terapêutico.



terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Quando nossas vidas se cruzaram



Embora esse blog não seja sobre cães de resgate, tenho que abrir uma exceção para contar como o Zequinha chegou até mim. Mesmo porque meu objetivo é trocar informações sobre TAA e socialização de cães, então não irei fugir do assunto, já que penso em dividir com você o processo de treinamento não só do Zequinha, como o meu também, de treinadora, pois pela primeira vez treino um cão meu para TAA.

No Morumbi, sempre socializo os cães numa praça fechada (parque). É um lugar ermo, rústico e talvez por isso pouquíssimo frequentado pelos moradores da região. Lá, subindo mais ao fundo, existem árvores da mata Atlântica que dão ao lugar um aspecto selvagem.

No dia 23 de dezembro, como sempre, cheguei e soltei meus cachorros por ali. Não demorou muito, alguns começaram a latir na direção das árvores. Quando fui verificar, encontrei quatro cães amarrados numa árvore. Dois de grande porte, um macho e uma fêmea, e dois pequenos. E o incrível da crueldade é que o pescoço deles tinha sido amarrado tão próximo do tronco que eles não conseguiam nem sentar.

Bem, não tenho muito estômago para descrever casos de abusos, mas, para resumir, como os maiores estavam agressivos (rosnando e latindo) e não me deixavam chegar perto para ajudá-los, chamei uma protetora que é voluntária na ONG em que trabalho, a Adriana Futema. Ela, com o auxílio de outra voluntária, a Elizangela, conseguiu soltá-los no dia seguinte. Infelizmente um pequeno fugiu e elas não conseguiram recuperá-lo. Os outros três foram encaminhados ao veterinário. Aparentemente eles estavam bem, apenas apresentando sinais de desidratação e desnutrição. O pequeno estava mais machucado na região do pescoço, pois como enquanto estava lá preso ele conseguiu se desvencilhar da coleira (que maldosamente estava envolvida em arame farpado!), acabou arranhando todo o pescoço.

Saindo do veterinário, os cães maiores, que receberam o nome de Amendoim e Paçoca, foram encaminhados para um sítio e aguardam um dono para serem adotados (mais detalhes no blog: http://cachorrinhonikko.blogspot.com/ ).

Bem, quanto ao pequeno, nesse exato momento está deitado embaixo da mesa do computador , com seu brinquedo preferido. 

Zequinha com o brinquedo da Zazá

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Quando o cão está pronto para iniciar o trabalho em TAA

Para saber se o cão pode começar o trabalho em TAA, verifico umas regras básicas que me ajudam a na avaliação do candidato .
Não ser filhote. Um filhote precisa brincar, descobrir os cheiros, morder ossinhos e até passar pela fase da destruição de objetos com cheiro de seus donos. É fundamental passar toda a sua infância brincando e aprendendo como se comportar adequadamente através do erro e acerto.
Não ter medo de ser tocado por estranhos. O co-terapeuta que já está 100% dessensibilizado,fica tranqüilo e relaxado quando estranhos tocam seu corpo. Veja, existe uma diferença entre “deixar ser tocado” e ficar “tranqüilo ao ser tocado”.  O cão pode não morder ou rosnar, mas se o cão ficar inquieto ou rígido, ele não está totalmente preparado para a TAA.
O trabalho de dessensibilização é fundamental para cães que vão trabalhar com terapia assistida.
3º Ser dócil e meigo. Embora docilidade e meiguice sejam habilidades consideradas inerentes, o modo como o cão é criado vai potencializar ou amenizar essas características. É importante o cão em treinamento receber muito carinho de pessoas diversas, se possível ter contato com crianças e idosos.  Um bom treinamento é levá-lo ainda filhote em um shopping Center. Você irá encontrar várias pessoas querendo passar a mão nele. Não tem quem não resista a um filhote.
Bem, se o cão preencher esses três requisitos, já poderá começar a freqüentar as sessões de TAA. Mas a princípio ele deve ir só para observar os outros cães atuarem e aos poucos, ele começa a participar de algumas atividades até adquirir confiança e experiência.
Segue foto do Zequinha no seu primeiro dia de socialização.
     

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Expectativa versus ansiedade.

Voltando de férias com mais disposição, mais desejo de realizações e mais um cachorro. Zequinha o mascote da família. Depois conto sua história.
UM ÓTIMO 2011

Expectativa versus ansiedade.

O cão que trabalha em TAA, pode ter um comportamento inadequado em determinada atividade durante a sessão. Um exemplo é nas atividades com bola. Os cães, principalmente goldens e labradores, ficam excitados e acabam ou pulando no assistido ou latindo até que joguem a bola para ele pegar.
E como resolver essa questão.
Entramos em uma sutil diferença que muda completamente a postura do cão. A divergência entre expectativa e ansiedade.
Um cão, para ter bom rendimento, necessita que o seu condutor consiga criar uma expectativa nele durante as atividades na sessão. O cão precisa ter a certeza  que irá ganhar a recompensa. Dessa forma, o cão fica motivado para fazer aquele comando, pois no final será recompensado com petisco, carinho ou um brinquedo. O cão espera o tempo que for necessário para ser recompensado. Mas quando o condutor ultrapassa o limite da tolerância do cão, a expectativa se transforma em ansiedade que leva ao mau comportamento.
O que fazer?

Primeiro: diminuir o tempo para dar a recompensa;
Segundo: enquanto o cão não assimilar que será recompensado, dê o prêmio sempre que tiver o comportamento correto, sem intervalos.

Abaixo a definição das duas palavras, segundo o dicionário Michaelis on-line e no final, a apresentação informal do Zequinha.  
expectativa
ex.pec.ta.ti.va
sf (lat exspectare+ivo) 1 Situação de quem espera uma probabilidade ou uma realização em tempo anunciado ou conhecido. 2 Esperança, baseada em supostos direitos, probabilidades ou promessas. 3 Estado de quem espera um bem que se deseja e cuja realização se julga provável.
ansiedade
an.si.e.da.de
sf (lat anxietate) 1 Aflição, angústia, ânsia. 2 Psicol Atitude emotiva concernente ao futuro e que se caracteriza por alternativas de medo e esperança; medo vago adquirido especialmente por generalização de estímulos.
Pulguinha, Zequinha, Colt e Frida
Pulguinha, Colt, Balú e Zequinha já se sentindo parte da turma