quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Ensinando a amar

Quem conhece meu trabalho, sabe da importância que dou na relação genuína entre o cão terapeuta e o assistido. Algumas pessoas podem não acreditar que o cão possa estabelecer uma conexão amorosa por um período tão curto de tempo que dura uma sessão. É difícil, aliás, muito difícil estabelecer um vínculo assistido/cão numa forma plena de carinho entre ambos. Mas, quando esse encontro acontece, estamos diante da verdadeira e plena terapia assistida por animais. No qual há a entrega absoluta do paciente. Ele passa a confiar no profissional oferecendo todos os aspectos mais íntimos a serem trabalhados.
Bem, mas, como disse não é tão fácil assim chegar a esse nível de relação. Vai depender de muito treino e de três fatores fundamentais:
A escolha do cão. Ao escolher um cão para trabalhar com terapia assistida, sempre procuramos um cão calmo e meigo. Sim, esse é um principio básico, mas também é de fundamental importância avaliar se o cão quer ficar no SEU colo ou no colo de todos, se ele abana o rabo para VOCÊ ou para todos. Veja, existe uma grande diferença em ser amoroso e ser apegado. O cão terapeuta deve ser afetuoso e meigo, mas não apegado. Assim ele será um cão carinhoso com todos e não somente com seu dono.
A sua necessidade afetiva: grande erro. Usar seu cão terapeuta para ser O seu cão terapeuta. Um profissional nunca poderá ter apego exagerado. O dono do cão deve amar, dar afeto, mas desapegar do seu cão, fazer com que ele goste não só do seu carinho mas do carinho de todos. Isso é um treino, é à base do adestramento para cães terapeutas. No caso de cães resgatados torna-se muito comum a ansiedade de separação, mas esse comportamento geralmente é adquirido, pois pela condição passada de sofrimento do cão, seu dono se compadece de tal forma que acaba o protegendo em excesso. Deixá-lo com amigos, em creche, socializa-lo com pessoas é fundamental para a saúde do animal.
Dessensibilização tátil. Um cão terapeuta deve gostar de toque, massagem, apertos (sem exagero, é claro), beijos (questão controversa, rs). Posso dizer que todos os autistas que trabalhei até hoje, não só passavam a mão nos cães mas se esfregavam, pareciam que queriam entrar dentro dos pelos. O tato e a emoção estão tão intimamente ligados, que sem dúvida este sentido deve ser treinado como o fator fundamental do sucesso da terapia assistida por animais. Esse treino não é só para o cão aceitar os toques, mas para ele amar ser tocado e massageado. O prazer mútuo entre assistido e o cão terapeuta.


Próximo post: como treinar o tato