sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Uma breve história de Freddy. Um cão terapeuta que trabalhou até ir para o céu (por Fátima Neves)

Freddy no asilo Recânto da vovó

No dia 18/12/11, ainda sem entender porque São Francisco resolveu chamar a Nuvem para
perto dele tão novinha, tão feliz (falarei dela num outro momento), perdi meu companheiro,
Freddy. Um lindo poodle cinza, que não latia, não chorava, não reclamava de nada. Era passivo e generoso. Um cachorrinho tão na dele, que um treinador mal informado definiu
como “covarde” e que “não servia para nada”.

Bem, eu não acreditei nessa versão e fui procurar outro treinador, até que encontrei um que
me disse que talvez ele não servisse para agility, pois parecia não gostar, mas certamente
gostaria de algo. Até que a outra treinadora do local disse, acho que para Terapia, que você
gosta tanto, ele está pronto. E ela, me indicou a OBIHACC, já com uma recomendação para o
tal cãozinho, que já tinha 8 anos, na época idade limite para trabalhar.

Lá fui eu, achando que ele era bonzinho, que podia até servir para esse trabalho. Ele foi
aprovado e já começou a trabalhar. Nesse momento, reconheci nele não um colega de
trabalho, nem um companheiro, fui apresentada a um professor. Claro que os humanos que trabalhavam comigo em TAA me ensinaram muito, muito mesmo sobre esse trabalho, mas ele, ele me ensinou tudo. Tudo o que olhar num cachorro, tudo o que observar no assistido e tudo que uma criatura, seja da espécie que for é capaz de fazer e de sentir em benefício do próximo. E do quanto beneficiar o próximo é bom para nós mesmos.

Ele me ensinou a ter sensibilidade de fazer o que era mais adequado ao momento, mesmo que não fosse o solicitado. Até rezar, na capela do hospital, junto com uma criança cardiopata ele rezou. Olhava aquele crucifixo, junto com a criança, como que estando em prece junto a ela. Uma enfermeira desse mesmo hospital disse que ele seria um workaholic, pelo tanto que
gostava de trabalhar. E fazia isso com alegria. Essa alegria independia do público. Trabalhou
com idosos, crianças cardiopatas, adolescentes com necessidades especiais, crianças com
transtornos psiquiátricos, autistas e adultos cardiopatas. Foi a inúmeras palestras e eventos,
onde era acariciado, apertado, amassado...

Bem, o trabalho era tão importante para ele, que conforme foi ficando mais idoso, com sua
aposentadoria na minha perspectiva, o veterinário dizia constantemente: “não aposente esse
cachorro, ele precisa trabalhar, se ele ficar parado vai adoecer”. Bem, olhando o jeito dele,
percebi que era fato, então apenas diminuí a carga. Até os 14 anos ele trabalhou como se
tivesse dois ou três, nem tomava conhecimento da idade. Depois dos 14, começou a sentir o
peso da idade, mas, no seu dia de trabalhar ficava pronto antes de mim. Se comportava como
filhote assim que me via pegar a bandana.

Tão importante que, já bem debilitado, com a aposentadoria inevitável, foi trabalhar no
Recanto (onde trabalhou por mais de 7 anos) na quinta-feira, 15/12, última sessão do ano,
onde foi comunicada sua aposentadoria no ano seguinte, com direito a foto coletiva, com
todas as idosas e muito colo carinhoso de despedida. Foi até o leito de sua maior fã, acamada, avisar que se aposentaria em 2012.

Aposentou-se efetivamente, em 18/12/11, no céu, onde certamente a Nuvem e os demais
cães terapeutas lá estavam, esperando o mestre, para continuarem trabalhando. Ou alguém

acha que ele foi para lá descansar?