terça-feira, 19 de abril de 2011

O cão não quer trabalhar. Preguiça ou cansaço?

Para quem está a algum tempo trabalhando com TAA possivelmente já deve ter passado por isso:
Depois de 15 ou 20 minutos na sessão o cão  vai deitar longe do assistido, se chamam para voltar ele não obedece e geralmente fica deitado com a cara em cima do pote de água bebendo uns golinhos a cada minuto.  

Por que ele tem este comportamento?

Pode ser por 3 principais motivos:

1 - O cão está com calor
2 - O cão está indisposto
3 - O cão está fazendo “corpo mole” 
 
Como fazer para identificar essas 3 probabilidades?

1ª ­- Essa é a mais fácil, se o tempo está muito seco, se a sala está sem ventilação e sua respiração está um pouco mais acelerada, provavelmente ele está com calor.  Também, com calor o cão não consegue ficar muito tempo com a bolinha na boca.
2ª – Um cão pode ficar cansado rapidamente numa sessão caso ele esteja com algum incômodo. Se antes da terapia ele apresentou diarréia ou vomitou, ele pode estar com uma indisposição estomacal. Diferente do calor, o cansaço por problemas gastrointestinais deixa o cão mais quieto, ele saliva mais ficando sempre com o queixo molhado e a boca semi-aberta ou fechada. Também precisa ser observado se na sala ele ingeriu algum produto ou engoliu algum brinquedo. Nesses dois casos, o mais comum é ele ficar com ânsia e vomitar logo depois de ter engolido.
 3ª – Se a temperatura ambiente estiver boa, se ele está com o intestino ótimo, se não vomitou e se na sala ele não ingeriu nada, muito provavelmente ele está com preguiça. O cão assim como os humanos tem seus dias de moleza, de querer ficar com a barriga para cima sem fazer nada.

A minha recomendação é a seguinte, se estiver com calor, dê bastante água a ele e deixe-o descansando por uns 10 minutos. Depois retornem para dar continuidade à sessão.
No segundo caso, isto é, se estiver indisposto, interrompa a TAA, leve-o embora e entre com o plano B. Todo profissional de TAA deve ter uma atividade sem o cão para justamente poder usá-la nesses momentos.
Agora, se tudo estiver OK e ainda assim o cão fizer corpo mole, com certeza é porque ele já percebeu que fazendo carinha de coitado  seu dono ou seu condutor vai deixá-lo “em paz”.
O mais curioso é que, se uma criança não quiser fazer a lição de casa, ela leva uma super bronca ou fica de castigo. Um adulto então, imagine qual será a resposta do seu chefe caso você chegue para ele com a mesma carinha de coitadinho que seu cão faz e ainda pede dispensá-lo, pois você está muito cansado.

Geralmente quem ama e respeita os animais tende a achar que como o cão não sabe verbalizar o que sente, qualquer expressão corporal semelhante ao comportamento de um cão fatigado, será um motivo para não continuar a sessão, pois estará explorando e exaurindo seu cão.
Um bom profissional que trabalha com terapia assistida por animais deve aprender a interpretar a linguagem canina. Só assim terá tranqüilidade para encerrar uma sessão caso seu cão esteja cansado ou saber impor sua liderança quando o cão estiver com preguiça.  

segunda-feira, 11 de abril de 2011

TAA com autistas

Hoje iniciarei uma série de postagens voltadas para determinada doença no qual podemos utilizar a TAA como uma alternativa de tratamento. Este primeiro artigo diz sobre os autistas e de forma resumida, indico as principais características do autismo.

Características dos autistas:

Não atende aos chamados (semelhante à surdez)

Não usa a imaginação e não entendem linguagem figurada (se falar que uma pessoa é brilhante ele pensará que é um homem que realmente brilha; não entende um conto de fadas)

Na maioria dos casos, existe um atraso considerável na linguagem (fala palavras sem contexto, não responde nenhuma pergunta)

Pouca ou nenhuma interação social (não olha no rosto das pessoas, prefere ficar sozinho)

Tem sério comprometimento na linguagem não verbal (não demonstra o que está sentindo)

É muito metódico (pode ficar furioso se desestruturar sua rotina ou mudar de lugar algum objeto)

Não tem medo (não entende quando está em perigo)

Por que utilizar a TAA como uma terapia auxiliar

O cão é uma ponte entre o autista e as pessoas. Ele interage com um ser que anda, come, bebe água, sente dor, precisa ser cuidado, mas NÃO é um ser humano.

Desvio do foco.  Ao desviar a sua atenção de um objeto para o cão, o autista passa a perceber esse novo objeto que respira, se mexe. É um objeto vivo.

O tato. A criança explora o corpo inteiro do cão e a dificuldade que tem com pessoas, ele não sente com os cães. A maioria dos autistas reage muito bem ao passar a mão no cão.

Na medida em que o autista estabelece um vínculo com o cão, o animal passa a ser uma ótima 
recompensa isto é,  ele também e um estímulo para conseguir diminuir os comportamentos inadequados e agressivos.

Como atuar nas sessões de TAA

§   A sala deve ter o mínimo de objeto possível. No início, o ideal é que os únicos estímulos sejam o cão e a bola. Se o autista só se interessar pela bola e nem olhar para o cão, não tem problema. Ele pode passar a sessão inteira só olhando para a bola. Depois comece a acrescentar outros estímulos, conforme ele  vai ficando mais familiarizado com as sessões. Pode ser uma escova ou pente, uma coleira com guia, e assim por diante.

§   NÃO OBRIGUE a criança a interagir com o cão na primeira sessão. Primeiro interaja você com o cão. Jogue bolinha. Tente ser o mais metódico possível.  Um exemplo: jogue a bola na boca do cão e peça para ele soltar. Faça várias vezes do mesmo jeito e falando no mesmo tom de voz como uma forma de chamar a atenção da criança. Depois, coloque a bolinha na mão da criança para que ela jogue. (lembre-se que o processo terapêutico é bem vagaroso e os progressos podem não aparecer nas primeiras sessões).

§  Após perceber que o autista já estabeleceu alguma simpatia pelo com o cão, deixe que ele o leve para andar na guia e aos poucos vá dando tarefas para a criança. Ex: Quando terminar a sessão, deixe que ele leve o cão até o carro.

§  Diga o nome do cão várias vezes durante a sessão.

§  Faça atividades sensórias como abraçar o cão, sentir sua respiração, massagear a barriga do cão.

§  Dê a escova  que foi utilizada durante a sessão para ele levar  e trazer na semana seguinte. Pergunte para a mãe como foi seu comportamento em casa com relação à escova.

§  Quando o autista se negar a colocar a blusa ou sapato, ou ficar agressivo, retire o cão da sala é diga que ele só voltará se seu comportamento melhorar

Lembretes:

1 - Para os autistas, é recomendável um cão de porte grande, tranqüilo,que não estranhe comportamentos diferentes do habitual, que consiga ficar muito tempo na mesma posição e que saiba pegar e soltar a bolinha. 
2 – Considero um erro grave dizer que o autista não tem afetividade. Ele não consegue demonstrá-la. O profissional precisa ter muita paciência, pois o tratamento é lento, sendo que em várias sessões pode dar a impressão de não estar progredindo.

3 – Sua postura com os autistas deve ser firme e decidida, mas também amorosa. Usar um timbre de voz meigo não ajuda na hora de educá-lo.

4- Conduza a sessão não só pelas atividades pré-estabelecidas, mas use a intuição e a criatividade.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Leitura obrigatória

A ONG Pêlo Próximo lançou o seu primeiro jornal na net. Essa iniciativa, poderá dar uma outra dinâmica na Terapia assistida por animais aqui no Brasil. Agrupar informações periódicas em um jornal sobre cães e TAA, facilita a comunicação dos profissionais de regiões diferentes e também é o modo mais prático de sempre ficarmos atualizados com as novidades.
As matérias e o layout do jornal ficaram ótimas e fáceis de ler e com fotos muito legais.
Enfim, uma leitura obrigatória para quem tem interesse na TAA.
http://www.youblisher.com/p/113843-Jornal-Projeto-Pelo-Proximo/

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Voluntário aprendiz

Já recebi vários emails com a seguinte pergunta: sou estudante de...e meu TCC é sobre terapia assistida por animais. Amo os animais...como posso entrar nessa área? Vc poderia me dar umas dicas de estágio. ..Segue meu currículo. Obrigada.
Para essa pergunta e para várias outras, minha recomendação é sempre a mesma. Seja um voluntário.
Ao se tornar um voluntário, o estudante ou o profissional no início de carreira, terá uma oportunidade única de cumprir seu papel como cidadão e também terá um rico material de estudo. Mas o principal é que aprenderá na prática.
Infelizmente, poucos estudantes ou profissionais tem essa disponibilidade para ser voluntário. Talvez porque estejam em um ambiente acadêmico, no qual tudo é muito formal. Para o embasamento teórico, tem os livros e para a prática, é preciso realizar os estágios, sendo que, o aluno precisa comprovar que leu os livros e comprovar que fez estágio. É muito burocrático e seguro. Reconheço que é uma rotina que está há anos sendo aplicada, e sair dessa zona de conforto pode ser assustador. Também existe a cobrança. O profissional recém-formado, precisa ganhar salário e entrar logo no mercado de trabalho.
Mas, veja o outro lado. Ser voluntário aprendiz, é uma forma de conhecer a área que você escolheu. Aquele que trabalha em uma ONG, tem a oportunidade de conversar com outros profissionais mais experientes e também pode expor suas idéias sem pressão ou medo de que esteja fazendo algo errado. Você também estará desenvolvendo um trabalho com os assistidos mais necessitados, e o retorno emocional é muito gratificante.
Eu, com 22 anos comecei minha jornada como voluntária na antiga Febem. Desde então, venho aprendendo algo novo a cada encontro com os assistidos e com outros voluntários. Posso dizer, sem nenhuma dúvida, que não dá nem para comparar o quanto aprendi como voluntária e o quanto aprendi em sala de aula.
Minha dica é, se você está procurando ganhar um bom salário, vá procurar um emprego que possa desenvolver um plano de carreira. Agora, se você quer colocar em prática tudo que aprendeu na faculdade e adquirir experiência, seja um voluntário aprendiz. Pode ter certeza que com o tempo surgiram propostas de trabalho remunerado.