sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Mãe de autista

Escrevi este artigo há um bom tempo, mas uma mãe não conseguiu achar esse texto, e por esse motivo estou postando-o novamente.

Ontem me ligou uma mãe que estava querendo adquirir um cão para seu filho autista de 4 anos. É muito comum mães de autista me ligarem pedindo informações sobre TAA.
Em geral “essas mães estão super ansiosas e “precisando” do animal para ontem”.
Depois da divulgação dos excelentes resultados obtidos na TAA com autistas,  as famílias estão buscando mais informações,  e isso é muito bom. Mas vale salientar aspectos fundamentais que os pais, no anseio de melhorar a qualidade de vida dos seus filhos, não analisam.
Segue 5 dicas para dizer aos pais de autistas sobre ter um cão para seu filho:
- a idéia de ter um cão para interagir com seu filho é ótima, mas deve ser estudada e organizada por pelo menos 6 meses antes de ter o animal;
- de início a família toda precisa freqüentar parques com vários cães, ir a pet shop ou nas grandes lojas de ração, ler livros sobre o assunto. Eles precisam conhecer como é a vida das famílias que têm cão;
- IMPOTANTÍSSIMO: quem vai cuidar do cão é a mãe. O cão antes de se adaptar a nova casa, vai exigir atenção redobrada.  Nenhum cão vem “pronto” e por mais que tenha adestrador, empregada que dorme na casa, a mãe é que vai ter o comando sobre o cão. No começo, ele,  irá fazer coisas erradas até aprender a conviver com seus donos. A mãe deve ser alertada que, como dizem, vai sobrar para ela ;
- É melhor adquirir um cão adulto que dê para saber qual o seu temperamento, sua tolerância aos toques e sua afetividade com os humanos. Caso queira comprar um filhote, peça ajuda para um adestrador avaliar o cão antes de comprá-lo. Nunca deixe o filhote com seu filho sem alguém estar por perto, e dê muita qualidade de vida para o cãzinho se tornar um bom cão terapeuta na vida adulta.
- faça um planejamento. Antes de adquirir um cão, compre um cão de pelúcia, mostre para seu filho, coloque-os para dormir juntos, dê um nome a ele e  compre DVDs com história de cães. Também  veja com os profissionais que cuidam do seu filho como realizar atividades que incluam assuntos sobre cães. O planejamento com uma programação é a chave para o sucesso da TAA. 

sábado, 10 de dezembro de 2011

A importância do brinquedo

Assim como as crianças, o brinquedo é fundamental para o cão ter um desenvolvimento saudável.  Quando um cão está entretido no brinquedo, ele não só está “te dando um pouco de sossego, mas principalmente está  aprendendo a se socializar. Ele interage com o mundo também através dos brinquedos. Está aprendendo a controlar a força das suas mordidas e a canalizar sua ansiedade no objeto. Também  muitos cães elegem seu “brinquedo favorito”.  E é através desse brinquedo que você poderá educá-lo.
Existe uma hierarquia nos tipos de brinquedo. Pode-se dizer que são divididos em três grupos: brinquedos descartáveis; intermediários; especiais.
Descartáveis: são aqueles do dia-a-dia. O cão pode morder à vontade, pode estragar  em minutos que não será repreendido. É interessante deixar seu cheiro no brinquedo, pois ele vai sempre procurar um objeto que tenha a sua identidade, e assim, suas havaianas, seu sapato novo, sua bolsa estarão mais seguros.
Intermediários: são brinquedos que duram mais e os cães até podem estragá-lo, mas não quando vc estiver por perto para não perder sua autoridade. Utilize esse brinquedo para educá-lo. Você determina a hora de dar o brinquedo. Vc deve repreendê-lo se estiver tentando estragar o objeto. É um ótimo recurso para se estabelecer os limites do que ele pode ou não pode fazer.
Especiais: são aqueles que o cão elege para ser o seu brinquedo mais legal. Assim como as crianças, um objeto preferido, ajuda no desenvolvimento saudável dos cães. Você deve mostrar para ele que está cuidando e protegendo esse brinquedo. Sabendo disso, o cão fica tranqüilo e vc se torna um líder sensato e querido por ele.


Observações:
 Se você não tem problema em dar garrafa pet para seu cão, dou uma dica preciosa. Pare para pensar um pouco nos objetos da sua casa  que você nunca usou e nem vai usar ou que estão  velhos, antes de mandar para o lixo reciclável, garimpem alguns possíveis brinquedos.

Potes, embalagens e tampas

Muitos objetos que fazem parte do nosso dia-a-dia são mais resistentes do que os brinquedos que compramos nos petshops. Veja a foto acima. São tampa sem pote, pote sem tampa, garrafa, embalagens de sabonete líquido, shapoo, espremedor de laranja, potes de plástico que os supermercados usam para colocar as comidas prontas, pote de margarina. Nos potes com tampa, coloque petiscos para ele ficar mais atraente. Não se esqueça de lavar muito bem antes de liberar o brinquedo para seu cão.
Nos brinquedos especiais, você vai precisar gastar um pouco mais de dinheiro, pois precisam ser resistentes. Se seu cão elegeu como brinquedo um bichinho de pelúcia ou algo mais frágil, só dê a ele quando  estiver por perto para que não seja destruído rapidamente. Existem uns brinquedos da  Buddy Toys que são divertidos e mais resistentes.
E não esqueça: seu cão precisa brincar muito, quando está sozinho, com você ou com outros animais.   


       

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Entrevista com Fernanda, mãe da Victória

1) Vc só tem a Victória?
R: SIM
2) Quando você percebeu algo diferente no desenvolvimento dela?
R.: AOS 3 ANOS
3) Como você soube da TAA?
R.: INDICAÇÃO DA CLINICA CRIAR QUE TRABALHA COM PSICOPEDAGOGIA COM CRIANÇAS.

4) Como chegou ao meu trabalho?
R.:A PROPRIETÁRIA DA CLINICA DISSE JÁ TER TRABALHADO COM VOCÊ E DISSE CONFIAR 10R.:PROCURAMOS EM MUITOS LUGARES MAS NOS ENCONTRAMOS NO CANIL ENCRENQUINHAS, FOMOS MUITO BEM ATENDIDAS E TIVEMOS O ANIMAL ESCOLHIDO ADEQUADAMENTE PARA O SUCESSO DO TRABALHO PELA PROFISSIONAL DE GRANDE EXPERIÊNCIA, DEDICAÇÃO E ENTREGA SRTA. KATIA AIELLO
0% EM SEU TRABALHO, E HOJE ME PEGO REPETINDO A FRASE QUANDO FAÇO UMA INDICAÇÃO (E FAÇO SEMPRE) POIS O FLASH É A MELHOR COISA QUE NOS ACONTECEU.
5)E o Flash, como surgiu?

6) Como é o relacionamento entre o Flash e a VItória?
R.:ELES SE AMAM COMO IRMÃOS.
7) E o relacionamento do Flash com você e seu marido? AMAMOS MUITO O FLASH ELE É PARTE DE NOSSA FAMÍLIA AGORA.
8) Como vc definiria o Flash hoje na sua família?
R.:SINTO QUE A FAMÍLIA CRESCEU E FICOU MAIS COMPLETA E FELIZ COM SUAS LAMBIDINHAS... RSRSRS
9) Algo a acrescentar?
OBRIGADA POR FAZER PARTE DE NOSSA HISTÓRIA DE AMOR E DEDICAÇÃO.
Muito obrigada!

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Terapia Assistida por Animais e Socialização de Cães: Cão de pequeno porte e a TAA

Terapia Assistida por Animais e Socialização de Cães: Cão de pequeno porte e a TAA: É comum associar a Terapia Assistida por animais com cães de grande porte, principalmente goldens ou labradores. Essa associação é comum e v...

Cão de pequeno porte e a TAA

É comum associar a Terapia Assistida por animais com cães de grande porte, principalmente goldens ou labradores. Essa associação é comum e verdadeira, pois os cães de grande porte são mais resistentes do que os cãezinhos, eles agüentam as brincadeiras mais pesadas, podem trabalhar com mais assistidos numa sessão e demoram mais para ficarem cansados.
Já os cães de pequeno porte, acabam ficando com as atividades mais tranqüilas como exemplo a escovação. Mas, embora os pequenos não estejam aptos para algumas atividades, isso não quer dizer que você não possa ampliar as suas aptidões para que faça uma quantidade maior de exercícios nas sessões de TAA .
E como você pode ensinar o seu cãozinho para que ele desenvolva mais habilidades:
1 – o maior obstáculo que irá encontrar é você mesmo. Os seres humanos têm uma necessidade natural de proteger cães supostamente indefesos. O correto é deixar que seu cão, principalmente filhote, consiga sair de uma situação desagradável sozinho ou com a ajuda de outro cão. (pegar bolinha embaixo do sofá)
2- cães quando querem algo pedem chorando e seu dono o atende tão rápido que esse choro dura alguns segundos. NUNCA pegue seu cachorro no colo quando ele estiver chorando para pedir algo. Ex.: porta fechada e o cão quer entrar. Ele chora e prontamente a porta é aberta.
3 – Tamanho não é documento. Cão pequeno, que recebe muita atenção do seu dono e que todas suas vontades são realizadas, tende a ficar mais bravo e valente quando se sente ameaçado. Seja quando entra em contato com um cãozinho ou com um pitbull. Socialize-o. Um cão socializado com outros cães é confiante e sabe se comportar diante de todos da sua espécie. Grande ou pequeno, macho ou fêmea .
4 – Filhotes. Eles são lindos, fofos e brincalhões. Muito difícil não ficar com eles no colo, fazendo muito cafuné. Crie uma rotina, por exemplo, só ponha no seu colo quando ele terminar de comer ou quando vc estiver assistindo o seu seriado preferido. Quanto menos ele for para o seu colo quando filhote, mais seguro ficará para enfrentar situações diversas. Ao invés de colocá-lo no colo, sente-se no chão e pegue algum brinquedo para interagir com ele.  Jogue bolinha para ele pegar, esconda-se para que ele tente te achar, ensine algum truque, como adivinhar em que mão está o petisco.
5- Cão de pequeno porte também pode se sujar e brincar na grama. Pelo menos no dia que vai ao pet shop promova encontros com outros cães adultos e confiáveis.  Deixe-os brincando e não fique com medo, pois eles “ falam a mesma língua e se entendem melhor”.
Nesse video abaixoestão o Scooby, um poodle filhote de 3 meses que está sendo treinado para uma criança de 8 anos e o Niko, um golden de 6 anos tranquilo e muito sociável. Como conheço o prefil dos dois, fico segura em deixá-los brincar.    

sábado, 5 de novembro de 2011

TENTAÇÃO (Clarice Lispector)


Ela estava com soluço. E como se não bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva.
   Na rua vazia as pedras vibravam de calor - a cabeça da menina flamejava. Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava. Ninguém na rua, só uma pessoa esperando inutilmente no ponto do bonde. E como se não bastasse seu olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de momento a momento, abalando o queixo que se apoiava conformado na mão. Que fazer de uma menina ruiva com soluço? Olhamo-nos sem palavras, desalento contra desalento. Na rua deserta nenhum sinal de bonde. Numa terra de morenos, ser ruivo era uma revolta involuntária. Que importava se num dia futuro sua marca ia fazê-la erguer insolente uma cabeça de mulher? Por enquanto ela estava sentada num degrau faiscante da porta, às duas horas. O que a salvava era uma bolsa velha de senhora, com alça partida. Segurava-a com um amor conjugal já habituado, apertando-a contra os joelhos.
   Foi quando se aproximou a sua outra metade neste mundo, um irmão em Grajaú. A possibilidade de comunicação surgiu no ângulo quente da esquina, acompanhando uma senhora, e encarnada na figura de um cão. Era um basset lindo e miserável, doce sob a sua fatalidade. Era um basset ruivo.
   Lá vinha ele trotando, à frente de sua dona, arrastando seu comprimento. Desprevenido, acostumado, cachorro.
   A menina abriu os olhos pasmada. Suavemente avisado, o cachorro estacou diante dela. Sua língua vibrava. Ambos se olhavam.
    Entre tantos seres que estão prontos para se tornarem donos de outro ser, lá estava a menina que viera ao mundo para ter aquele cachorro. Ele fremia suavemente, sem latir. Ela olhava-o sob os cabelos, fascinada, séria. Quanto tempo se passava? Um grande soluço sacudiu-a desafinado. Ele nem sequer tremeu. Também ela passou por cima do soluço e continuou a fitá-lo.
    Os pêlos de ambos eram curtos, vermelhos.
   Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe-se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo. Sabe-se também que sem falar eles se pediam. Pediam-se com urgência, com encabulamento, surpreendidos.
   No meio de tanta vaga impossibilidade e de tanto sol, ali estava a solução para a criança vermelha. E no meio de tantas ruas a serem trotadas, de tantos cães maiores, de tantos esgotos secos - lá estava uma menina, como se fora carne de sua ruiva carne. Eles se fitavam profundos, entregues, ausentes de Grajaú. Mais um instante e o suspenso sonho se quebraria, cedendo talvez à gravidade com que se pediam.
   Mas ambos eram comprometidos.
   Ela com sua infância impossível, o centro da inocência que só se abriria quando ela fosse uma mulher. Ele, com sua natureza aprisionada.
   A dona esperava impaciente sob o guarda-sol. O basset ruivo afinal despregou-se da menina e saiu sonâmbulo. Ela ficou espantada, com o acontecimento nas mãos, numa mudez que nem pai nem mãe compreenderiam. Acompanhou-o com olhos pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e os joelhos, até vê-la dobrar a outra esquina.
   Mas ele foi mais forte que ela. Nem uma só vez olhou para trás

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Um vira-lata (artigo lindo de Reinaldo Azevedo, colunista da Veja)

Um dia ele apareceu na vilinha, não se sabe de onde. Já chegou adulto, meio labrador, meio lata, com o rabo cortado. Alguns o chamaram, então, “Cotó”. Outros o tinham por “Martim”, jamais consegui saber em razão de que marca. Estava por ali, entre as casas, havia bem uns 12 anos. Os “cachorristas”, dadas algumas características, lhe atribuíam entre 15 e 18 de vida. Contrariava a máxima de que cachorro de muitos donos morre de fome. Ele não! Estava sempre bonito, garboso, saudável.
bonito, garboso, saudável.
Livre, sua simpatia era objeto de disputa. Cotó era personagem das nossas férias, dos nossos fins de semana, de muitos dos nossos momentos de alegria. No sábado, saiu para não voltar. Não dava mais pra ele. Os rins tinham parado de funcionar. Já não conseguia mais se alimentar. Só lhe restava a dor. Dor silenciosa, respiração ofegante, cansaço extremo. Foi levado ao veterinário. Um primeiro remédio o fez dormir, e outro pôs o ponto final.
Os dias podiam ser instáveis; o céu, temperamental; o sol, incerto; a temperatura, variável. Mas Cotó restituía todas as nossas esperanças de dias melhores. Era o portador da memória daquele lugar. Mais do que qualquer um de nós, sabia que um vento podia enegrecer o céu ou, então, abri-lo num azul largo e ancestral.
É provável que voltasse sempre em busca de comida — não aceitava nada que não fosse carne ou derivado, o luxento! —, e a gente confundisse aquilo com afeto. Mas quem se importa? Quem é tão vaidoso a ponto de inquirir os reais sentimentos de um cachorro?
Às vezes ele interrompia a minha leitura ou outra coisa qualquer que estivesse fazendo. Postava-se à minha frente. Encarávamo-nos, então, com camaradagem. “E aí, meu? O que é que manda?” Ele se aboletava por ali, descansava o focinho entre as patas, fechava os olhos devagar e parecia me dizer: “Isso vai se repetir para sempre. A vida pode ser assim, mansa…” E, por alguns segundos, minutos talvez, eu conseguia não pensar em nada, não querer nada, não me importar com nada. Dois camaradas satisfeitos, silenciosos, ocos de anseios, como a paisagem, como a seqüência dos dias, como o marulho mais ao fundo.
Cotó tinha a generosidade das coisas certas. Enquanto estava por ali, era como se nunca tivéssemos sido mais jovens, nunca tivéssemos sido mais saudáveis, nunca tivéssemos sido mais ágeis, nunca tivéssemos sido mais otimistas, nunca tivéssemos sido mais viçosos. Naquela pequena vila, ele nos dava a ilusão da eternidade e alimentava as nossas esperanças.
Morreu Cotó, e o tempo nos invadiu. Terei de aprender a amar outra narrativa na mesma paisagem, da qual ele não é personagem. Eu devo ter imaginado — acho que sim, não estou bem certo — que me viriam os netos e que ele continuaria por ali a atestar que nem tudo nos foge pelos vãos dos dedos, aos poucos, sem nem mesmo um suspiro audível.
Isso não é política, como vêem. É que Cotó tomou seu rumo. Lá se foi ele, sem consultar ninguém, como sempre, dono do seu nariz.