quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Entrevista com Sandra Bayer, mãe de Thomás e "avó" de Scooby

Como foi a sua gravidez e parto do Thomas?

A gravidez do Thomas foi desejada e tranqüila, enquanto durou. Mas tive uma infecção coriônica (na bolsa) e ele acabou nascendo prematuramente, com 28 semanas de gestação.
Foi um começo muito difícil. O Thomas ficou internado por dois meses, no primeiro deles em estado muito grave, entubado, muito pequenininho. Teve até uma hemorragia cerebral que, por sorte, acabou sendo reabsorvida rapidamente. De qualquer forma, restou uma lesão de massa branca, chamada leucomalácia periventricular.

Quais foram as orientações do médico e quais atividades ele iniciou?

Tive muita sorte com o pediatra. Um homem muito sensível, além de bom médico, que me ensinou com um tratamento de choque, logo na primeira consulta, que era preciso que eu mesma assumisse os cuidados do meu filho, porque isso garantiria o melhor pra ele e também possibilitaria o restabelecimento de uma relação mãe-filho que havia sido traumaticamente interrompida pelo parto e internação.
Também me mostrou que meu filho era merecedor de um grande investimento emocional (e financeiro também), e que se recebesse desde logo a estimulação precoce correta, poderia superar as dificuldades que normalmente surgiriam depois de um nascimento tão traumático. O Thomas tinha dois meses quando teve alta do hospital e, quatro dias depois, já estava fazendo sua primeira sessão de fisioterapia. Foi atendido segundo a metodologia Bobath em fisioterapia e também terapia ocupacional. Mais tarde, aos dois anos e meio, tendo dificuldade para desenvolver a fala, o Thomas iniciou também acompanhamento com fonoaudióloga.
Quando estava com três anos, o Thomas já estava cansado da fisioterapia. Como já se encontrava bem melhor, com sua hipotonia muscular bem mais suave e já conseguindo andar e correr normalmente, a fisioterapeuta entendeu por bem que ele fizesse outro trabalho físico, mas que também trouxesse um aporte lúdico e emocional, o que ajudaria muito. Foi assim que o Thomas começou a equoterapia, uma vez por semana. Foi um período emocionante para mim como mãe, pois ele passou do medo do cavalo à segurança de montá-lo, além de desenvolver um grande prazer em conviver com o animal, em várias atividades interativas, de alimentá-lo, escová-lo etc. Ao final de um ano de tratamento, repentinamente, ao menos para  mim, ele acabou desenvolvendo uma forte alergia ao cavalo e tivemos que parar com a equoterapia, o que foi uma grande tristeza para todos, inclusive para ele.  À época, o neurologista e a equoterapeuta indicaram a terapia assistida por animais, mas eu e o pediatra ficamos receosos com uma nova alergia. Abortamos por ora aquele projeto.  O Thomas começou, paralelamente, a fazer sessões de psicomotricidade, de psicopedagogia e de psicoterapia. 
Hoje, quais atividades realiza?

Continua com o acompanhamento com o psicomotricista, a psicopedagoga e a psicoterapeuta. Também voltou à fonoaudióloga, como parte de um conjunto de tratamento com uma equipe multidisciplinar. O Thomas continua a ser precocemente estimulado, a fim de evitar os problemas, ao invés de esperar que eles cheguem para depois iniciar uma reabilitação, o que seria muito mais complicado e menos produtivo. Acho que por isso o Thomas é um caso de sucesso. Um menino que superou todas as dificuldades e continua a superar cada uma que se apresenta, tendo uma vida como a dos outros amigos, com um ótimo desempenho escolar e com uma vida familiar rica e feliz.
E quanto à vc, existe algum tipo de terapia ou de apoio que frequenta ou frequentou?

Quando Thomas estava com mais ou menos um ano, a fisioterapeuta dele me disse algo muito marcante: nenhuma passarinha busca comida pro seu filhote sem antes ela mesma se alimentar. E me deu o telefone de uma psicóloga. Realmente, precisava cuidar primeiro de mim, para poder dar meu melhor ao meu filho, sem a culpa pelo que havia ocorrido (as mães sempre se sentem culpadas, não é mesmo?) e sem a sensação de uma punição do destino... Foi com cinco anos de terapia que pude olhar primeiro para a mãe do Thomas pra depois começar olhar para a Sandra de novo....

Como soube da TAA?

Como disse, a primeira vez que me indicaram a Katia foi com a saída do Thomas da equoterapia, indicada pela equoterapeuta e pelo neurologista. Mas por conta da possibilidade de alergia não fui atrás dela. Mas a indiquei pra muita gente, até sem conhecê-la.... 

Por que agora resolveu procurar a TAA?

Só agora, ele estando com nove anos, voltamos à idéia da TAA. Quando o Thomas começou a se ressentir por ser o único entre os amigos que não tinha cachorro, a psicopedagoga me estimulou a novamente falar com a Katia, para, quem sabe, encontrarmos uma solução “antialérgica”. Obviamente, tivemos que abdicar da idéia de um golden, por conta da perda de pêlo, e acabamos com o Scooby, um poodle, que deveria ser médio, mas que acabou ficando mais nanico do que deveria... rsrsr
Você alguma vez pensou em ter um cão?

Nunca pensei em ter um cão. Primeiro porque o meu desejo de criança de ter um cachorro sempre foi postergado pela minha mãe... Não achava que levava jeito pra bichos em geral e tinha até um certo receio. Além disso, tenho uma rotina puxada, conciliando a profissão com os cuidados com a rotina do Thomas, o que ainda faço pessoalmente. Então achava que não teria tempo. Meu marido também tinha uma história parecida comigo de infância, mas ele ainda tinha esse desejo contido lá no fundinho.

Quais os benefícios que você percebe no contato do Thomas com o Scooby?

O Thomas se envolveu emocionalmente com o Scooby muito rapidamente, sempre querendo estar com ele, sempre com saudades entre as sessões. Sentiu-se muito satisfeito em ter um cão. Explica para todos que é um cão co-terapeuta... Mas o que automaticamente percebemos é que ele perdeu o medo de outros cães, passou a se interessar pela história de outras pessoas e seus cães, a querer brincar com eles. Antes, tinha muito medo. Hoje, ele já tem um relacionamento estabelecido com o Scooby, sempre se preocupa com ele, quer vê-lo, quer saber dele. Na última semana, passaram sete dias juntos. Foi lindo e muito divertido. Às vezes se cansava de ter que cuidar do Scooby o tempo todo, e aí entrava o suporte da mãe...

Como está sendo à entrada do Scooby na família?

Estamos todos felizes com o Scooby e aprendendo a lidar com a nova realidade. Na verdade, acho que nós também estamos sendo “treinados” pela Katia!!!  O grande choque foi mesmo o do Scooby com o cão rabugento de minha sobrinha. O Schumi é um velho yorkshire que teve medo do Scooby e rosna pra ele o tempo todo... Depois da última semana acho que ele viu que vai ter que se acostumar.

A TAA exige muita disciplina por parte dos familiares, principalmente da mãe que está mais em contato direto com o cão. Você percebe que essa dedicação gera bons frutos no futuro?

De verdade, espero e acredito nesses bons resultados. TODA A EXPERIÊNCIA QUE ACUMULEI EM RELAÇÃO A ESSES TRATAMENTOS ME FAZ ACREDITAR QUE A TAA É DIFERENTE, PORQUE O SCOOBY VAI PASSAR A FAZER PARTE DA VIDA DO THOMAS INTEGRAL E INCONDICIONALMENTE. E TRABALHA COM ALGO REAL E CONCRETO, UM CÃO DE VERDADE, QUE PRECISA DA SUA ATENÇÃO PARA VIVER. É A PRIMEIRA RELAÇÃO QUE MEU FILHO TEM COM ALGUÉM QUE DEPENDE DELE TAMBÉM E NÃO SÓ O CONTRÁRIO. ESPERO QUE A PRIMEIRA DE MUITAS...

É comum a família passar a observar mais o comportamento dos outros cães na rua e dos seus parentes. Você consegue perceber a diferença entre adquirir um cão co-terapeuta e um cão doméstico?

Com certeza.... Conheço muitas pessoas que agora percebo que compraram cães para seus filhos mas acabaram “usurpando” o presente. Normalmente o cachorro acaba se ligando mais à mãe, que nem percebe isso. Agora isso ficou bem mais claro para mim. Acho que sem as dicas da Katia (que eu tento seguir à risca, apesar do Scooby ser encantadoramente sedutor) eu teria me colocado no meio da relação deles, e assumido o Scooby pra mim. Isso não ocorreu: todos sabem que o Scooby é do Thomas, inclusive eles dois.
Além disso, o cão co-terapeuta não é só um cão que late. Ele interage e estimula a criança.  O apoio da terapeuta também é fundamental, para não cometermos erros típicos de “donos de cachorro de primeira viagem”, que “estragariam” o Scooby. O próprio veterinário se deu conta disso, em nossas visitas conjuntas. Até quando assistimos novamente a “Marley e eu” percebemos que poderíamos ter caído em alguns erros do começo da relação...

Tem mais algo que gostaria de acrescentar?

Só posso agradecer pela parceria que acabamos formando e dizer que os meus receios acabaram se dissipando. Estou muito feliz por ter dado esse passo. E, mais importante que isso: o meu filho está muito feliz. E isso, não tem preço.


Um comentário:

  1. Muito bacana este depoimento da Sandra Bayer, Kátia! Nossa, que família mais cuidadosa, que mãe mais atenta e amorosa que a Sandra é. Fiquei encantada com tudo que ela contou e com os cuidados que a família vem tendo com o Thomas desde os primeiros meses de vida dele. E que bom que agora o Thomas tem perto dele também o Scooby e uma profissional como você, que eu sei o quanto tem de experiência com crianças e animais. Parabéns a todos vocês neste trabalho!

    ResponderExcluir