quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O início de uma relação de amor.

Olá. meu nome é Kátia e resolvi compartilhar um pouco do meu dia-a-dia. Por quê? Basicamente por ter uma vida diferente, um trabalho diferente, um carro diferente e às vezes me sentir muito mais uma cachorra ( no sentido literal, por favor) do que uma pessoa. 


Minha manhã começa dando bom-dia para minhas cachorras e para algum cão associado que esteja em casa. Levanto e, enquanto a máquina de café vai trabalhando vou limpar o quintal. Coloco comida para todos na cozinha e começo a tomar meu café da manhã. Terminado pego uma ou duas cachorras, coloco no carro e vou trabalhar. Chego na casa de um, depois de outro e outro, até que meu pobre Uno Mille 2008 fica com mais ou menos 10 cães e eu. Sigo rumo a uma praça isolada no Morumbi. É um local super-seguro e poucos sabem de sua existência.

Chegando lá, todos saem desesperadamente, correndo e cumprimentando os cães da Carla (outra diferente como eu). Ao todo, ficamos brincando com uns 20 cães e socializando-os. São duas matilhas que se unem, formando uma hipermatilha de cães do bem.

Ao terminar a socialização no período da tarde inicio meu trabalho com TAA, terapia assistida por animais. Por hoje vou ficar por aqui.
Aos poucos vocês irão conhecendo todos os cães e suas personalidades.
Gostaria de mostrar um texto meu que escrevi quando me iniciei nessa profissão. Eu comecei a perceber como os cães poderiam modificar um estado de espírito só pelo fato de estarem ao nosso lado. Na época eu não tinha a Mila, a minha golden que está na foto.

Pôxa, são tantas coisas que ainda tenho pra contar...


O AMOR ENTRE HUMANOS E CÃES


INOCÊNCIA, FRAGILIDADE, DEPENDÊNCIA, TERNURA, BRINCADEIRA, PUREZA, SABEDORIA.

É muito difícil falar sobre amor sem entrar numa área um pouco filosófica. O ser humano há milênios tem uma relação estreita de amizade e fidelidade com os cães. Vou procurar fazer uma pequena análise do amor que o homem sente pelo cão, já que as abordagens sobre o amor que os animais dedicam aos humanos são mais freqüentes. Vamos partir do princípio que, ao nascermos, somos uma folha em branco a ser preenchida pela nossa relação com nossos pais, irmão, amigos, professores, por todos, enfim, que fazem parte da nossa vida.
A sensação que um bebê, que pouco ainda tem de si desenhado nessa folha branca, apresenta diante de um bichinho, um cão, um gato, é positiva em noventa por cento dos casos. Quem já teve a oportunidade de observar com atenção uma cena dessas sabe como o bebê fica feliz, extasiado de ver um animal. São suas primeiras sensações positivas diante de um ser de uma espécie diferente da dele. Mesmo aqueles bebês que manifestam algum sinal de medo do animal, assim que são postos num lugar seguro para dali olharem os cães, sentem um grande prazer em ver os bichinhos pularem, correrem, brincarem. Só esse contato entre um animal e um bebê, que se encontra num estágio de vida muito mais sensorial do que racional, já nos permite perceber quantas afinidades existem entre nós e os cães.
Depois crescemos um pouquinho e aí vem aquela fase em que nossa imaginação fica a mil. Então a boneca é a nossa filhinha, e o amigo imaginário nos obedece, briga conosco, fica de mal como se existisse de verdade, e o nosso cãozinho se transforma no nosso mais querido brinquedo. Podemos colocá-lo de castigo, dizer o que ele pode e o que não pode fazer, somos soberanos em relação a esses inocentes, mas também começamos a amá-los de forma intensa. E enquanto exigimos deles total obediência a nossas tiranias, eles permanecem do nosso lado – com a paciência de um ser iluminado e desenvolvido espiritualmente. Parece que eles entendem o quanto é importante para o desenvolvimento de uma criança ela poder mandar neles, ela poder ser uma pequena ditadora. Para eles não importa, pois sabem que são amados e respeitam a criança sabiamente.
E aí vem a adolescência. Embora ainda muito amados, os cães são deixados um pouco de lado por seu dono adolescente, pois os adolescentes podem tudo, só não podem perder tempo. Quando estão em casa, não param de falar ao telefone. A sorte, para o cão, é que os adolescentes, para isso, se refugiam em seu próprio quarto, e nessa os cães são experts em entrar sorrateiramente na grande ala que é proibida para os outros integrantes da casa. Está certo que o cão de um adolescente fica esquecido nessa fase da vida do jovem, trocado pelos namoros e pelas paixões passageiras, pelas saídas constantes e por interesses mais consumistas. Mas um cão é paciente e compreensivo. Não importa quanto tempo demore essa fase, ele estará sempre lá, alegre quando seu dono chegar, extremamente feliz quando receber uma carícia mesmo que rápida, sem sentir rancor nem mágoa por não ser mais o centro das atenções de seu jovem dono. Simplesmente porque ele sabe, como nenhum outro ser, amar incondicionalmente.
E então nós nos tornamos adultos. Adultos estressados. Trabalhamos feito loucos, comemos mal, enfrentamos o trânsito. Ah, o trânsito... O que não teria escrito Danthe se vivesse o inferno do trânsito? As contas, as responsabilidades. Trabalhamos incessantemente durante a semana para termos dois dias de descanso, isto é, na verdade um dia, pois aos sábados temos que ir ao supermercado, ao shopping, mandar lavar o carro, nos dedicar aos filhos muito mais. Como conseguimos sobreviver nesse caos? Entre outros motivos, com a ajuda de um ser que é pura INOCÊNCIA, FRAGILIDADE, DEPENDÊNCIA, TERNURA, PUREZA, SABEDORIA: o cão. Características suficientes para amarmos um cão, não?
Nós amamos os cães porque só os animais tão próximos de nós como os cães parecem enxergar a bondade que se esconde em todo ser humano. Qualquer pessoa tem seu lado bom, seja a nossa vizinha mal-encarada que não dá bom-dia pra ninguém, mas que, a gente sabe, trata seu próprio cão a pão-de-; seja um homem capaz de matar outro homem, mas incapaz de maltratar seu cão de estimação.
Um cão tem a capacidade de amar o que somos, amar nossa alma. Você pode ser um anão, um deficiente, um hexacampeão de Fórmula 1 (aliás, o Schumacher adotou um vira-lata brasileiro, que encontrou vagando pelo autódromo de Interlagos); se você tiver um cão, pode estar certo: ele amará você. Para um cão, não importa se você é uma freira, uma prostituta, o presidente do país ou um mendigo. Ele também não está interessado na sua profissão, na sua cor, nas suas preferências sexuais, se você é carteiro, bombeiro, médico, lixeiro, entregador de pizza, empresário.
Amamos um cão porque somos amados por ele. Amamos um cão porque muitas vezes conseguimos nos comunicar melhor com eles do que com os humanos que estão ao nosso lado. Amamos um cão porque eles são inocentemente egoístas. Nos querem só para si, e não escondem seus desejos. O ossinho é só dele, o brinquedo é só dele, a casinha é só dele. E pronto. Simples assim. Tudo é simples em um cão. Até seus defeitos são tão escancarados, são tão descaradamente sinceros, que fica muito difícil não acharmos virtudes neles.
Pequeno depoimento pessoal: Se hoje estou podendo estudar e trabalhar com esses seres especiais, é porque devo muito da minha vida às minhas duas cachorras. Elas me tiraram de uma depressão por ter perdido meus pais muito jovem. Se não fosse a necessidade de cuidar delas, o contato com esse lado desarmado e inocente da vida que elas representam, eu não teria conseguido reaprender a ser feliz. Obrigada, Scully e Zazá, meus amores incondicionais, por terem me trazido o amor de volta à minha vida.

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